Vamos nós de novo ao tema mais popular da história da exploração espacial. Astronautas americanos caminharam mesmo sobre o solo lunar seis vezes entre 1969 e 1972, como dizem todos os livros de história? O Mensageiro Sideral já se debruçou sobre a questão em outra oportunidade e apresentou suas célebres cinco provas da ida do homem à Lua.
1- O Japão confirma
A missão japonesa Kaguya (também conhecida como Selene), em 2008, produziu imagens bacanérrimas do solo lunar. Infelizmente, as câmeras não tinham resolução suficiente para detectar objetos deixados pelos voos tripulados, mas produziram uma excelente reconstrução tridimensional do sítio de pouso da missão Apollo 15, de 1971. Compare a imagem obtida pela Jaxa (agência espacial japonesa) com uma foto feita pelos astronautas. Como explicar uma réplica tão precisa do solo lunar se tudo não passou de gravação em estúdio?
2- A Índia confirma
“Ah, mas os japoneses são tradicionais aliados dos Estados Unidos desde a reconstrução do país após a Segunda Guerra Mundial. Eles fazem parte da conspiração”, alegam os mais disparatados. OK, a próxima parada é a Índia. A missão Chandrayaan-1, lançada em 2008, foi motivo de orgulho para os indianos: a primeira espaçonave daquele país a orbitar a Lua. A sonda, a exemplo de sua colega japonesa, não tinha câmeras com resolução suficiente para enxergar hardware no solo lunar, mas eles confirmaram uma antiga desconfiança dos americanos: que os jatos propulsores do módulo lunar da Apollo 15 alteraram a superfície, deixando-a mais clara. (Aliás, uma das velhas acusações dos conspiracionistas é de que os retrofoguetes misteriosamente não deixaram marcas no solo. Bem, aí está a prova de que, ao menos em uma das alunissagens, deixaram.)
3- A China confirma
“Ah, mas essas imagens indianas borradas podem ser qualquer coisa. É óbvio que os cientistas daquele país foram pagos para dizer que viram as marcas do foguete da Apollo 15 no solo”, atacam novamente os conspiracionistas. Bem, então vamos ao maior rival espacial dos Estados Unidos na atualidade: a China. Os chineses andam felizes da vida por esses dias pilotando seu jipe robótico na Lua, mas em 2007 e 2010 eles lançaram duas naves orbitadoras para mapear o solo lunar: Chang’e-1 e Chang’e-2. A segunda dessas sondas conseguiu o que indianos e japoneses não puderam fazer: detectar sinais diretos das caminhadas americanas sobre a Lua. Ou, pelo menos é o que disse Yan Jun, cientista-chefe de aplicações do projeto de exploração lunar chinês. Infelizmente os chineses tratam suas imagens com mais pudor e não divulgaram os dados pertinentes. Eu contatei Mu Lingli, responsável pela organização do atlas lunar produzido pela Chang’e-2 e ele me disse que por ora a China está divulgando online apenas as imagens que mostram 50 metros por pixel. As fotografias obtidas pela Chang’e-2 que poderiam revelar sinais das naves Apollo têm resolução de 1,5 metro por pixel, mas não estão disponíveis. O que só mostra o quanto os chineses não estão a fim de fazer propaganda americana, embora admitam que seus rivais estiveram mesmo por lá.
4- Os russos confirmam e tentaram chegar primeiro
Se e admissão dos rivais atuais não é suficiente, que tal a dos antigos? Os russos monitoraram cuidadosamente todas as missões Apollo, não só ouvindo as comunicações, mas observando a posição das naves em órbita por radar e calculando sua posição. Em nenhum momento tiveram qualquer dúvida de que os americanos haviam estado na Lua. Não só porque viram acontecer, mas principalmente porque estava preparando suas próprias missões lunares. Um dos boatos espalhados pelos conspiracionistas é de que uma viagem à Lua era impossível pois uma travessia dos cinturões de radiação que envolvem a Terra (descobertos pelo americano James van Allen, a propósito) levaria à morte dos astronautas. Por isso, segundo eles, os soviéticos jamais tentaram a viagem. Mentira deslavada. Hoje temos informações completas do programa lunar soviético, como este diagrama de seu módulo de pouso, chamado L3. Note a figura do cosmonauta dentro dele. Menos capaz que o modelo americano, ele só podia levar um tripulante.
O fracasso desse projeto se deu porque o foguete responsável por impulsionar as naves, chamado N1, tinha problemas insolúveis de design. Todas as tentativas de lançamento (a primeira das quais em 1969) levaram à perda do veículo poucos segundos após a decolagem (felizmente não havia ninguém dentro nesses voos de teste).
5- O mundo inteiro confirma
As naves Apollo foram monitoradas não só por redes de radiotelescópios na Espanha e na Austrália — que forneciam apoio direto às missões viabilizando comunicações quando as naves não podiam ser contatadas diretamente do território americano –, mas por astrônomos amadores de todas as partes do globo. É comum hoje em dia esses apaixonados por astronáutica monitorarem satélites em órbita e até mesmo calcularem sua altitude e inclinação. Um caso dramático foi o da sonda russa Fobos-Grunt, lançada em 2011, que deveria ter partido para Marte, mas falhou. Diversos observadores em solo ajudaram a determinar que ela nunca deixou a órbita terrestre, uma vez que ela nunca chegou a entrar em contato com o controle da missão. A imagem abaixo mostra a separação da Apollo 14 do terceiro estágio do foguete Saturn V, fotografada pelo Observatório Corralitos, da Universidade Northwestern, nos EUA. A pluma imensa é o jato de exaustão do foguete. A nave é o pontinho branco na ponta da pluma.
A essa altura, a nave já estava numa rota translunar. Imagens como essa foram registradas em todas as missões Apollo, por astrônomos amadores e profissionais em todas as partes do mundo. Com o equipamento certo, é possível monitorar uma nave a caminho da Lua, quando ela reflete a luz solar e se torna brilhante. Não são imagens espetaculares, é verdade. Mas estamos discutindo provas, não estética.
A verdade é que os teóricos da conspiração precisam expor seus motivos quando falam das missões Apollo. Esses críticos vêm principalmente em dois sabores: aqueles que querem desacreditar as viagens à Lua porque fazem oposição ideológica aos Estados Unidos (nada contra criticar os americanos, mas desconfio que a crítica só é legítima se for baseada em fatos reais, não?), e aqueles que por razões religiosas acreditam ser impossível que seres humanos pisem sobre a Lua (talvez um resquício da filosofia aristotélica segundo a qual há uma divisão clara entre o céu, perfeito e imutável, e a terra, imperfeita e sujeita a transformações). Seja qual for a categoria, em sua fé cega, eles parecem mais aqueles comentaristas esportivos que querem brigar com as imagens da TV para dizer que foi pênalti quando o replay mostra que os jogadores envolvidos nem se tocaram.
E, por falar em imagens, encerro o assunto com um vídeo contendo cerca de 1h30 de imagens filmada pelos astronautas da Apollo 11, Neil Armstrong, Edwin Buzz Aldrin e Michael Collins.
Essas imagens foram captadas pelos astronautas com uma câmera de filme de 16 mm, com muito mais resolução do que as imagens de TV usadas na transmissão ao vivo da missão, em julho de 1969. E sem som, claro! Você pode ver o “pequeno passo” de Neil por um outro ângulo e acompanhar todos os momentos mais bacanas da missão, como as acoplagens, o pouso e a reentrada. Em alguns momentos fica meio tedioso, mas é assim que é a realidade. Não é sempre emocionante como um filme de Stanley Kubrick
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