domingo, 9 de fevereiro de 2014

Crítica: 'Uma Aventura Lego' desconstrói o monstro criado pela máquina de vender brinquedos



Brincadeira Consequente>>>
Com o cenário cultural mudando cada vez mais rápido, a cada ano restam de pé poucos denominadores comuns para fazer a ligação entre gerações. Programas como Chaves e Chapolin, exibidos praticamente sem parar por décadas na  brasileira, são uma dessas raras constantes universais que unem o inconsciente coletivo. Os blocos multifuncionais dos Legos são peças de resistência que conectam a imaginação planetária desde tempos imemoriais. A linha de brinquedos dinamarqueses se tornou uma subcultura onipresente, com tentáculos espalhados por videogames e instalações de arte.  

O filão das adaptações de brinquedos para o  é um conceito tão oportunista que ainda soa absurdo, mesmo depois do sucesso de "" e "G.I.: Joe", franquias que abriram o precedente para os estúdios se aproveitarem da nostalgia transmitida de pais para filhos. 

Mas como um filme poderia capturar a sensação de brincar com os tijolos e bonecos do multiverso colorido dos Legos, sem se transformar em mais um caça níquel desalmado? 
Para montar esse quebra-cabeça, a Warner chamou Phil Lord e Christopher Miller, revelados na fofura surreal "Tá Chovendo Hamburguer".  Após dirigirem Chaning Tatum e Jonah Hill no remakefanfarrão de "Anjos da Lei", a dupla - que começou na série “Clone High”  -  retorna para suas raízes animadas em "Uma Aventura Lego". O filme vai fundo na mitologia dos Legos, escavando ideias das toneladas de memórias empilhadas nos corações de pequenos engenheiros que passaram horas erguendo seus mundinhos pré-moldados.

A surpresa conceitual da história bolada pelos diretores, ao lado dos roteiristas Dan e Kevin Hageman, é o grito iconoclasta contra o conformismo instruído nos manuais de construção dos Legos. Emmet (dublado por Chris Pratt, no original), é um boneco João Ninguém, que passeia invisível pela multidão, satisfeito em se encaixar na linha de produção de cidades de plástico. O chamado para aventura o coloca no centro de uma caçada  por um objeto lendário que pode remodelar o seu mundo.

Quebrando o molde dos clássicos de jornada do herói como “” e “Star Wars”, o maior talento desse protagonista é ser um sujeito ordinário e sem ambições, que funciona melhor seguindo as regras. Emmet tenta demolir os planos do vilão Senhor Negócios (Will Ferrell), um control freak que deseja manter cada peça de Lego em seu devido lugar para sempre. 

Repleto de personagens que fazem parte do baú de propriedades da Warner Bros (Senhor dos Anéis, e DC Comics), as participações especiais das versões em PVC de ícones como (hilário na voz de Will Arnett), rendem uma saraivada constante de piadas referenciais que vão deixar os mais escolados em cultura  tontos de rir.

O espetáculo visual desenvolvido pelo estúdio Animal Logic é resultado de uma combinação invisível de animação em 3D com stop motion, submergindo a plateia em oceanos cúbicos compostos por bilhões de pecinhas tridimensionais. Por si só, a complexidade da animação já valeria o preço do ingresso, mas é mais bonito ver o consumismo deslavado servindo como matéria prima para considerações lúdicas sobre aceitação e a necessidade de mudança.  

Habitando a fronteira que separa as obras de arte da série "Toy Story" com a simplicidade pouco inventiva de "Detona Ralph", a trama de  "Uma Aventura Lego" transporta seus brinquedos imaginários para além da quarta parede e tenta desconstruir o próprio monstro criado pela Lego. Divertida e sem muita sutileza, a história chega ao final como um  moral para nos lembrar de como a obsessão pela ordem pode enrijecer até a melhor das brincadeiras. 

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